Na geometria euclidiana, aquela que aprendemos na escola e que rege o nosso mundo físico em escalas cotidianas, a definição axiomática de duas retas paralelas é que elas nunca se encontram. Elas existem no mesmo plano e mantêm uma distância constante entre si por toda a sua extensão infinita. No entanto, a ideia de que "retas paralelas se encontram no infinito" não é um erro, mas sim a base de um outro sistema matemático: a geometria projetiva.
Minha admiração pelo Renascimento se justifica ao perceber que foi justamente nessa era que artistas como Brunelleschi e Alberti, ao tentarem representar o mundo tridimensional em uma tela bidimensional, desenvolveram as regras da perspectiva linear. Eles notaram que, para os nossos olhos, trilhos de trem ou as bordas de uma estrada parecem, de fato, se encontrar em um ponto no horizonte. Esse ponto é o ponto de fuga.
Minha filosofia fundamental é que essas duas retas representam a Arte e a Ciência. A ideia de duas grandes forças do esforço humano caminhando juntas em direção a uma fusão final é a quintessência do pensamento renascentista e da busca por uma verdade unificada.
Ao aceitarmos o sistema Euclidiano, teríamos que a Arte e a Ciência seriam duas jornadas que caminham lado a lado, talvez influenciando-se mutuamente pela "gravidade" de suas descobertas, mas jamais perdendo suas identidades distintas. Elas se aproximariam assintoticamente da mesma verdade, mas nunca se tornariam a mesma coisa. Mas a geometria projetiva formaliza aqui uma intuição artística. Ela adiciona um "ponto no infinito" ao plano euclidiano, um ponto ideal onde todas as retas paralelas a uma determinada direção se cruzam.
A fusão entre Arte e Ciência não é uma consequência inevitável do universo (como seria em um "teorema" universal). Em vez disso, ela é um ato de projeção, uma escolha deliberada de perspectiva.
Na visão Euclidiana, Arte e Ciência mantêm sua autonomia. A ciência busca leis objetivas e falseáveis; a arte explora a experiência subjetiva e a expressão. Elas correm em paralelo, e a beleza está em sua mútua companhia, não em sua fusão.
Na visão Projetiva, para que Arte e Ciência se encontrem, nós precisamos criar o ponto de fuga. Precisamos nos posicionar em uma perspectiva onde sua convergência se torna visível. Esse "ponto no infinito" não é um lugar físico, mas um horizonte conceitual: a busca pela Verdade, pela Beleza, pela Compreensão da Consciência, ou pelo propósito da existência.
Portanto, esse "teorema profundo" não é sobre algo que simplesmente é, mas sobre algo que pode ser, se escolhermos a perspectiva correta. A fusão não é um dado, é um projeto. Exige a genialidade do artista para criar o ponto de fuga e a disciplina do cientista para traçar as linhas retas em sua direção.
Isso nos leva a algumas questões reflexivas, que são o verdadeiro cerne dessa intuição:
Esse "ponto no infinito" onde Arte e Ciência se fundem é um destino final a ser alcançado, ou ele funciona mais como a Estrela do Norte, um ponto de referência imutável que nos guia, mesmo que nunca possamos tocá-lo fisicamente? Ao forçar a fusão dessas duas linhas, o que se perde? A objetividade rigorosa da ciência? A liberdade ilimitada da arte? Ou, ao se encontrarem, elas criam uma nova disciplina, algo que transcende ambas?
A união da Arte e da Ciência não é uma fatalidade, mas sim o maior e mais belo projeto intelectual da humanidade. Ex Duobus Unum. In Infinito Conveniunt.